Henry Burnett Henry Burnett - O Andarilho

1. O Andarilho

Um andarilho vai pela noite

A passos largos;

Só curvo vale e longo desdém

São seus encargos.

A noite é linda -

Mas ele avança e não se detém.

Aonde vai seu caminho ainda?

Nem sabe bem.

Um passarinho canta na noite:

"Ai, minha ave, que me fizeste!

Que meu sentido e pé retiveste,

E escorres mágoa de coração

Tão docemente no meu ouvido,

Que ainda paro

E presto atenção? -

Por que me lanças teu chamariz?" -

A boa ave se cala e diz:

"Não, andarilho! Não é a ti não,

Que chamo aqui

Com a canção -

Chamo uma fêmea de seu desdém -

Que importa isso a ti também?
Sozinho, a noite não está linda -

Que importa a ti? Deves ainda

Seguir, andar,

E nunca, nunca, nunca parar!

Ficas ainda?

O que te fez minha flauta mansa,

Homem da andança?"

A boa ave se cala e pensa:

"O que lhe fez minha flauta mansa,

Que fica ainda? -

O pobre, pobre homem da andança!"